segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Diz-me quem és.



Meu bisavô era artesão,
Meu pai também o foi,
Meu pai também o era
E eu também o sou
Com a minha profissão,
Sou o único na minha terra.

José da Encarnação



José Mendes Martins, nome oficial, nome de BI, mais conhecido desde novo por JOSÉ DA ENCARNAÇÃO, para se distinguir de um primo com o mesmo nome ficou o “Zé da Encarnação”. Nome de guerra e “ adoptado” para todas as circunstâncias. O seu pai, o seu avô e bisavó também foram esparteiros.  Desde menino que sobe à Serra da Gardunha para colher o esparto. Conhece-a como poucos. Lê e escreve bem, completou a 4ª classe num tempo em que poucos o conseguiam. No ano em que fez exame foi distinguido como o melhor aluno da escola. De nada lhe valeu …os tempos eram duros. As condições económicas sociais e culturais de um Portugal arcaico e obscurantista , sobretudo, nos meios rurais determinaram a permanência na aldeia. Avançar nos estudos era coisa de alguns (poucos) privilegiados. “ Ganharás o pão com o suor do teu rosto”, foi esta a sua sina. Ganhou o pão e ganhou a vida. Dedicou-se durante muitos anos à agricultura e ao comércio de frutas, durante alguns anos “abandonou” o esparto, “não dava para viver só disso”. Foi fazendo umas incursões na arte sempre que podia, abraçou-a de novo com a reforma, que coincidiu com um período em que se deu mais alguma atenção ao artesanato. Por esta época, “O artesanato voltou ao cimo da terra”, como disse, em entrevista ao Jornal do Fundão, realizada por Nuno Francisco e publicada em, 10 /12/de 2004.Continua com uma memória invejável, cita facilmente factos da história de Portugal. Bom comunicador, entusiasma-se e transpira alegria quando fala da sua arte. “ Na vida não se pode parar”, diz. O lado literário e artístico “ que se perdeu”, estão bem visíveis no modo como encara a sua arte, e na sua “alma de versejador popular”, como refere Ana Rodrigues no excelente trabalho realizado para o Urbi et Orbi. 
Atento ao que se passa no mundo, nada lhe escapa. Desenvolto nas mãos e nas palavras, apesar dos contratempos, continua a surpreender-nos pela resistência e entusiasmo postos na dedicação à vida e, em especial à sua arte. Por isso, não é surpresa que, mais uma vez, neste Verão, subisse à Serra para retirar da natureza o esparto com que trabalhará nos tempos mais próximos.” Aquele ar (da serra) faz-me falta e faz-me bem”, Diz. Adora a terra que o viu nascer, aliás, nos últimos anos, pela sua presença em feiras, jornais, rádios e televisão tem sido um dos maiores embaixadores de Alcongosta e do Fundão. Com 87 anos feitos em Março, o último dos esparteiros, é um exemplo de vida.



L. Sérgio

Nenhum comentário:

Postar um comentário